JONATHAN DUNHAM CONCEDE ENTREVISTA EM RODEIO DE SAL DE VERRA: CONFIRA
quarta-feira, 7 de março de 2012
No dia 04 de março, a comunidade de Val de Serra teve a ilustre visita do norte americano Jonathan Dunham e seu burro Judas, que já percorreram o equivalente a 18mil km entre a America do Norte, Central e Sul. Eles pernoitaram na propriedade dos Bresolin e participaram do XII Rodeio Crioulo de Trios do CTG Tropeiro Serrano. Durante o dia almoçaram na propriedade de Valdir e Nara Vestena, onde também pernoitaram. Ambos foram rumo ao Uruguai, partindo de viagem ás 06h da comunidade no dia 05. Tive a oportunidade de conversar com ele e fiz algumas perguntas:

Jâneo: Quem é você? Qual e como surgiu o objetivo desta aventura?
Jonathan Dunham:
Eu cresci em Laramie, estado de Wyoming, nos Estados Unidos. Passei, também, parte da minha infância em Papua Nova Guiné. Sou filho de um professor universitário. Atualmente moro em Portland, estado de Oregon, nos Estados Unidos. Tenho 37 anos e sou bioquímico pós-graduado em Indianapólis, no estado de Indiana, pela Universidade de Denison. Decidi fazer esta viagem não como uma aventura, mas como uma peregrinação, pois tenho objetivos espirituais e filosóficos para ela. Estou em busca de um sentido para a vida, em busca de respostas a perguntas que freqüentemente nos fazemos, mas não damos muita importância. Quero encontrar-me espiritualmente, conhecer-me a mim mesmo, ter um tempo para meditar, ler, refletir, sair da rotina, da modernidade que nos afoga e só dá importância ao materialismo, ao ter e não ao ser. A idéia surgiu logo depois que me graduei, pois estava insatisfeito com o ambiente acadêmico que leva em consideração somente o lado racional e esquece, muitas vezes, de outro lado, o lado espiritual. É sempre difícil desprender-se da rotina, do conforto da vida, mas quero estar cercado por Deus.
Primeiramente parti de Oregon para ir até o México. Contudo, decidir ir além e caminhar até a América Central e do Sul. Fiquei um ano trabalhando em Tamaulipas, na Cidade de Vitória, no México, na propriedade de uma família, cuidando de algumas vacas leiteiras. Enquanto estive lá aprendi o espanhol e arrecadei dinheiro. Quando parti esta família me deu um burro para me ajudar na viagem. Fiquei um ano na Venezuela e vim descendo a América. Inicialmente eu não passaria pelo Brasil, pois não dominava muito o português. A insistência das pessoas nos países que fazem fronteira com o Brasil e os comentários de que os brasileiros são muito bons, fizeram com que eu e Judas viéssemos conhecer o país. Decidimos entrar por Foz do Iguaçu, no Paraná, e estamos descendo a Região Sul, estando atualmente aqui. Achamos o pessoal desta Região do Brasil um pouco tímidos, porém muito generosos e acolhedores. Durante este percurso pelo Brasil já aprendi falar um pouco em português, mas ainda continua sendo um desafio.

Jâneo:
    Qual o nome do burro e o que ele representa para você?

Jonathan Dunham:
    Decidi por o nome do burro de Judas, mas um Judas do Bem. Primeiramente ele é para mim um companheiro, um fiel amigo, que me ajuda a carregar minhas coisas como livros, alguns mantimentos, roupas, a minha barraca, Bíblia e máquina fotográfica. Além do mais, Judas me ajuda a fazer amizades.

Jâneo:
    Faz quantos anos que você está viajando? Onde e quando irá parar?

Jonathan Dunham:
    Sai de Oregon em 2004, faz sete anos que estou viajando. Calculo mais uns dois anos para chegar ao destino final. Porém estou em dúvida ainda quanto ao destino, não sei se paro em Santiago no Chile ou se vou até a Patagônia. Quando terminar, eu e Judas voltamos de navio junto a minha família.

Jâneo:
    Quais foram os maiores desafios e perigos que enfrentou?

Jonathan Dunham:
    Passamos por vários perigos: enfrentamos animais peçonhentos e bravos, já fomos assaltados duas vezes e Judas já foi até roubado, mas eu consegui recuperá-lo. Já tivemos que comer restos de comida, tive dengue na Nicarágua e infecções parasitárias, bem como Judas, que também já fora picado por uma cobra e quase caiu em um precipício. Na Venezuela o navio o qual embarcamos foi assaltado por piratas e no Paraguai fomos cercados por jaguares. Os maiores desafios são as fronteiras devido à fiscalização. Na Venezuela, por exemplo, fiquei um tempão sendo interrogado pela Guarda Nacional, que queria saber os objetivos e o porquê queríamos entrar no país. Já na Colômbia tivemos dificuldades de passar a fronteira, pois Judas não estava com a documentação em dia, precisava de uma licença sanitária.

Jâneo:
    Como é teu dia a dia?

Jonathan Dunham:
    Caminhamos cerca de 25 à 30 km por dia. Acampamos cada noite em um lugar diferente, não muito perto das cidades, pois não são ambientes muito propícios para Judas. Gastamos cerca de 3 a 4 reais por dia. Ademais, contamos com a gentileza e ajuda das pessoas que vamos conhecendo pelo caminho, nos diferentes países. Algumas nos dão alimentos, roupas, livros e, outras, fornecem lugares nos sítios e propriedades para acamparmos. Há também aquelas que pensam que sou traficante, espião ou fugitivo. Na Bolívia, por exemplo, uma família não quis emprestar um local para nós acamparmos, pois verdadeiramente pensaram que éramos bruxos, não estavam acostumados com situações assim. Durante toda a viagem reflito e nas paradas aproveito para ler e escrever no meu diário. Já li livros de Sartre e Hegel e simpatizo com Alvin Platinga, filósofo religioso americano da universidade de Notre Dame. Também carrego um MP3 para ouvir músicas e palestras. Alguns livros os quais já li vou dando as pessoas pela viagem, mas um que é indispensável e estou sempre com ela é minha Bíblia. Há pessoas que me perguntam se eu escreverei algo para publicar após terminar a viagem e eu digo que não sei ainda, pois esta viagem não tem como objetivo principal isto. Talvez escreva por escrever sem esperar um lucro posterior.

Jâneo:
    Já fizeste outras viagens assim? E a tua família como fica?

Jonathan Dunham:
    Uma vez já viajei de camelo pelo Sudão. Sempre que possível mantenho minha família informada através do celular e da internet, quando há possibilidade de acesso. Mantenho também um blog, aonde vou postando as fotos da viagem, dos lugares, situações e pessoas que estamos conhecendo nos países.

Como percebemos na entrevista ambos são muito amigos, tanto que Jonatham respondeu quase todas as perguntas no plural. Desejamos uma boa viagem aos dois e que Jonathan Dunham consiga responder suas perguntas e encontrar-se espiritualmente. De Val de Serra eles seguem para Santa Maria e depois vão rumo Bagé e Aceguá para depois cruzarem a fronteira para o Uruguai.

Países os quais Jonathan e seu burro Judas já passaram: EUA (Estados de Oregon, Califórnia, Nevada, Arizona, Novo México, Texas), México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Brasil (Região Sul).

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